Zach Ertz é a cereja do bolo em um Cardinals que pode sonhar com o Super Bowl

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A sexta-feira (15) trouxe uma notícia bombástica na reta final do período de free agency (trocas entre as franquias) da temporada 2022 da National Football League (NFL). Horas depois de ter entrado em campo com o Philadelphia Eagles na derrota por 28×22 para o Tampa Bay Buccaneers, no Lincoln Financial Field, franquia que defendia desde 2013, quando foi selecionado no Draft, Zach Ertz anunciou que jogaria, a partir daquele momento, no Arizona Cardinals.

A transferência foi bombástica por três motivos:

Idolatria

Zach Ertz sempre foi um dos atletas mais queridos pela torcida do Philadelphia Eagles. Campeão do Super Bowl LII, em 2018, o primeiro da franquia da Pennsylvania, ele quebrou o recorde de recepções para um tight end em uma única temporada da NFL: em 2018, foram 116 – culminando em 1163 jardas e oito touchdowns. Ele também anotou o último touchdown no jogo, o da virada, que o fez ter um anel de campeão da partida esportiva mais importante do esporte estadounidense.

O carinho era recíproco. Pouco depois de perder a partida, foi flagrada a reação de Ertz antes de entrar no vestiário da equipe:

Zach Ertz heading into the locker room… pic.twitter.com/2FQlzaH0YQ— DIE-HARD 🦅 Fans (@Eaglesfans9) October 15, 2022

Momento

Como já dito, a movimentação foi feita no dia seguinte a um jogo do Eagles. Como a NFL tem apenas um jogo na quinta-feira por semana (o Thursday Night Football), o Cardinals ainda jogaria naquela rodada – no domingo, quando venceu o Cleveland Browns. Ertz, obviamente, não jogou – mas já ficou na sideline com os novos companheiros de equipe.

Ainda relativamente jovem (Ertz tem 30 anos), o tight end era tido como uma das peças fundamentais para que o Eagles, em um claro momento de reconstrução após a conquista do Super Bowl, voltasse a figurar entre os times com mais chances de conquistar o anel de vencedor. Com Jalen Hurts como franchise quarterback em uma divisão com uma equipe (Dallas Cowboys) bem superior as demais, ainda havia um componente bem particular para que o atleta ficasse na Philadelphia: a volta por cima. Após perder cinco jogos por conta de uma lesão, era natural que ele quisesse dar a volta por cima após a pior temporada que teve na carreira. Preferiu ir para uma equipe que se mostra (cada vez mais) pronta.

Arizona Cardinals

Este é o cerne da questão para toda a análise envolvendo a troca. E é bom citá-la, obviamente. Mas ela merece um novo tópico, inteiro, só dela.

Até onde o Arizona Cardinals pode chegar?

Há anos a divisão mais forte da NFL, a NFC West tinha, para muitos, três candidatos ao título. Campeão da divisão no último ano, o Los Angeles Rams contratou Matthew Stafford para oxigenar o ataque e seguiu com unidades sólidas e dinâmicas. Após um ano repleto de lesões, o elenco do San Francisco 49ers segue muito forte – e, agora, tem Trey Lance para variar jogadas com Jimmy Garoppolo. O Seattle Seahawks tem Russell Wilson lançando para DK Metcalf e Tyler Lockett.

Todo mundo sabia que o Arizona Cardinals era um time com boas peças. Na temporada 2020, chegou até a última semana com chances de ir aos playoffs, mas rateou por conta de uma série de lesões – menos que o 49ers, é verdade, mas que impediram os jogos a partir de janeiro. A questão é que o Cardinals, perto dos atrativos dos outros três, era tido como o mais fraco da divisão – algo que sempre discordei. E isso, no final da Semana 6 da NFL, já parece ter caído por terra.

Contundido, Russel Wilson deve perder mais algumas semanas – e Geno Smith, embora tenha bons números e exibições, já demonstrou o motivo pelo qual é reserva em momentos decisivos. Rams e 49ers já foram vencidos pelo Cardinals – a franquia de Los Angeles, por sinal, não perdia para Arizona há três temporadas.

Mais do que tudo isso: nos seis primeiros jogos, foram seis vitórias para o Cardinals. Equipes de todos os tipos foram vencidas: rivais de divisão, candidatos ao Super Bowl (além de 49ers e Rams, soma-se o Cleveland Browns), equipes com ótimo jogo corrido (Vikings e Titans), defesas eficientes, quarterbacks com um futuro que tende a ser brilhante (Jaguars). As partidas tiveram viradas e oscilações, outras foram controladas desde o primeiro chute. Não faltaram cenários para que o time fosse testado. E, no final, Arizona passou por todos.

O que falta para esse time ser levado a sério por todos, então?

Uma delas é camisa. Mesmo sendo a franquia mais antiga da liga (fundada em 1898, ainda no século XIX), o Cardinals, ao longo da história, passou muito mais tempo sendo o primo pobre que nas primeiras prateleiras. O último título nacional da equipe foi em 1948 – bem antes da era Super Bowl, nunca vencido pela equipe e disputado uma única vez, em uma das finais mais emocionantes de todos os tempos contra o Pittsburgh Steelers. Colocar o Cardinals como postulante ao título gera estranhamento. É muito mais fácil citar as franquias mais tradicionais, com mais influência e torcida. É assim em todo canto, simplesmente. E isso deve ser entendido – e, claro, ponderado.

Outra questão fundamental tem a ver, justamente, com Zach Ertz. A escolha do elenco do Arizona Cardinals é algo que, há anos, é muito peculiar.

Das melhores equipes recrutando jogadores via Draft, a franquia, de tempos em tempos, precisa abrir mão de jogadores por conta do teto salarial da NFL. Neste ano, importantes jogadores deixaram a equipe. No ataque, Larry Fitzgerald, talvez o melhor jogador da história da franquia, optou por não assinar com time algum. Kenyan Drake, dos principais nomes no jogo corrido, passou a vestir a camisa do ,as Vegas Raiders. Já na defesa, Patrick Peterson, ainda influente apesar dos números decadentes, foi para o Minnesota Vikings. Haason Reddick, destaque da última temporada, se mudou para o Carolina Panthers. Dre Kirkpatrick, importante na rotação de jogadores, partiu para o 49ers. No time especial, Mike Nugent também deixou a equipe.

O corpo de recebedores, que já tinha DeAndre Hopkins, Christian Kirk e Andy Isabella, ganhou AJ Green (vindo do Cincinnati Bengals) e Rondale Moore (escolha de segunda rodada do Draft que, logo de cara, também passou a ser utilizado como um eficiente retornador). Recebedores em demasia para um time que usa e abusa do jogo aéreo, com Kyler Murray cotado para ser o Most Valuable Player (MVP) da temporada e Kliff Kingsbury, head coach da equipe, que usa variações da West Coast Offense desde quando era técnico de Texas Tech Red Raiders na NCAA.

Faltava uma posição. Embora Maxx Williams viesse em grande fase, nunca se sabe quando o jogador, que vive tendo lesões e não figura no hall de grandes tight ends da liga, poderia cair de rendimento ou virar uma baixa. Virou já na Semana 5. E, sobre tights ends do Arizona Cardinals, é necessário abrir um imenso parêntese: como recebedor o último grande nome da posição na franquia foi Freddie Jones, entre 2002 e 2004. De lá para cá, por várias vezes o time tentou melhorar a posição: foram sete escolhas via Draft e as contratações de Todd Heap, John Carlson, Darren Fells, Charles Clay e Jermaine Gresham. Com exceção do último nome, todos tiveram pouco destaque no deserto. Zach Ertz chega, justamente, para preencher a grande lacuna de um sistema ofensivo que já causa imensa dor de cabeça para todo e qualquer adversário – ainda mais com a linha ofensiva, histórico problema da franquia, reforçada com Rodney Hudson.

A defesa também perdeu bons nomes, é sempre bom lembrar. Mas Budda Baker, Jordan Hicks e Isaiah Simmons, que já estavam no elenco, assumiram o protagonismo junto com Chandler Jones, voltando de lesão. Byron Murphy tornou-se um cornerback temido – posição mais carente após a linha ofensiva, que ganhou o luxuoso reforço de JJ Watt. E, no time especial, Matt Pratter tem assumido muito bem os chutes.

Zach Ertz é a cereja do bolo de um time que há anos vem se preparando para ser protagonista. O Super Bowl talvez não venha, mas o Arizona Cardinals prova que é possível sonhar.

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